terça-feira, 13 de janeiro de 2009

En passant


Todos os dias perfazia o caminho de sempre à saída do serviço. A barraca de frutas, a banca de jornais, o supermercado, o estacionamento. De rotina somente o percurso, já que a variedade de frutas e a particularidade das notícias quebravam o encanto da mesmice. Assim como o supermercado, cuja proximidade com o centro da cidade oferecia uma fauna sortida de cidadãos. Tudo era ponto de vista onde a retina brandia diariamente.

Nesse vaivém desenfreado, pois já lá iam dez anos, presenciou uma cena à porta do supermercado. Uma mulher morena, lenço à cabeça, rodeada de filhos, indagando o gerente do estabelecimento pelo emprego do mais velho. “Deixa, moço?” O olhar do menino, projetando ansiedade nos olhos do gerente, atravessando-os, procurando abraçar a esperança no infinito.

Num último relance, já na contra-mão do alcance de mira, pôde vislumbrar a mão do gerente pousar sobre o ombro do menino.

Esquina dobrada, eis o estacionamento. Que para fugir da rotina e participar ativamente doa dinâmica do momento, lhe oferecia um pneu furado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário